domingo, 25 de novembro de 2012

Por que eu jogo RPG?


Crônica que eu escrevi em 2004 e nunca dividi com ninguém... Hoje resolvi postar!
Um dos meus últimos textos... Até deu vontade de voltar a escrever! Será que rola?


Por que eu jogo RPG?

Há alguns anos joguei a minha primeira sessão de RPG. Completamente alheia ao assunto, levei um bolo de um namorado e resolvi ceder aos pedidos de um grande amigo e fui, então, jogar RPG com grupo dele. Após a primeira hora, descobri o porquê do fascínio que o RPG exerce sobre seus praticantes...

Entender as regras não foi nada fácil mas, depois de algumas sessões, começava a tornar-se bastante simples, e até mesmo natural, somar os pontos com os dados e matar orcs, escalar montanhas ou pular por fendas no chão. Aquele mundo de elfos, fadas, duendes e os mais variados monstros era tudo o que eu precisava para sair um pouco da vida real, desestressar e conseguir me divertir a valer.

Quando se joga RPG, se esquece os preconceitos, a gente vira criança outra vez, pula, corre, briga pelo último copo de coca cola, vibra ao dar o golpe decisivo contra aquele dragão malvado que o mestre, mais malvado ainda, resolveu colocar na história só pra nos atrapalhar.

O Rpgista consegue, de forma natural e fantástica, entrar num mundo onde a realidade não mais importa, os problemas de dinheiro, saúde ou relacionamentos ficam do lado de fora e, durante uma tarde, uma noite ou até mesmo um ou dois dias inteiros, nada mais interessa. Os celulares são desligados, dados e simples folhas de papel viram armas mortais, capazes de fazer tudo, desde que o mestre deixe. Durante aquelas horas que estamos jogando, esquecemos nossas idades, cores e credos. Pais de família se juntam a garotos e garotas que ainda estão no colégio, e ficam em tom de igualdade, sem a malícia e a perversidade que rondam o mundo de hoje.

O Rpgista não precisa se vestir de preto, nem ter cabelo comprido. Ele pode se sentar ao seu lado no ônibus e você nem notar. Ou pode passar voando na sua BMW nova e você apenas amaldiçoar aquele filhinho de papai que provavelmente vai atropelar alguém. O Rpgista é um ser normal. Tão bom ou ruim quanto qualquer outro. Não cultua demônios nem vai ao cemitério fazer rituais antigos, descritos em algum livro de capa amarelada. Aliás, os livro dos Rpgistas são, na maioria das vezes, tão belos e intactos quanto aqueles que saíram agora da livraria, pois o livro é a chave que o leva àquele mundo mágico e misterioso que ele tanto adora.

É para isso que se joga RPG. Para se livrar das angústias do dia a dia e poder voltar a ser criança. Para brincar de bangue bangue com seus coleguinhas da escola. Eu jogo RPG porque sou humana, e como qualquer humano, busco um escape para os problemas da vida atual. O Rpgista não é aquele cara que mata e estupra crianças, como muitos grupos gostam de pintar. Talvez, se ele tivesse jogado um pouco de RPG, não cometesse tais atrocidades. É impossível se descrever um Rpgista, porque ele pode ser qualquer um. Um Rpgista não tem na sua face as marcas do jogo, e nem fica contando a todo mundo o que faz no seu tempo de folga. Talvez eu até me sente ao seu lado no ônibus hoje, e você nem vai ficar sabendo que essa menina frágil, de cabelos castanhos e roupas coloridas é uma maga poderosa que em seu tempo livre mata dragões.

11.05.2004
Bárbara Nassif - 20 anos

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